Desde que passei a ter uma visão mais lúcida da vida, percebi que a educação
pelo exemplo é a mais eficiente arma que existe. As surras só chocam e podem até
ter certo efeito superficial, a princípio, que é o de obedecer simplesmente sob
pressão, mas desencadeando para aspectos mais graves que conduzem como seqüela a
revolta, resultado de uma repressão descabida, na maioria dos casos, além de
afastar o afeto da vítima para com o agressor.
As palavras ajudam, de alguma forma, mas tornam-se vazias se não acompanhadas
do exemplo ou se quem as proferirem não tiverem a devida moral para tanto.
Diariamente desembocam no meu e-mail parábolas, histórias e estórias dos mais
diversos pontos do país. E o relato que vem a seguir é um destes e reflete muito
bem como exemplo do tema de hoje.
Vamos lá:
Era uma tarde de domingo ensolarada na cidade de Oklahoma. Bobby Lewis
aproveitou para levar seus dois filhos para jogar mini-golf. Acompanhado pelos
meninos dirigiu-se à bilheteria e perguntou:
- Quanto custa a entrada?
O bilheteiro respondeu prontamente:
- São três dólares para o senhor e para qualquer criança maior de seis anos.
A entrada é grátis se eles tiverem seis anos ou menos. Quantos anos eles têm?
Bobby informou que o menor tinha três anos e o maior, sete. O rapaz da
bilheteria falou com ares de esperteza:
- O senhor acabou de ganhar na loteria, ou algo assim? Se tivesse me dito que
o mais velho tinha seis anos eu não saberia reconhecer a diferença. Poderia ter
economizado três dólares.
O pai, sem se perturbar, disse:
- Sim, você talvez não notasse a diferença, mas as crianças saberiam que não
é essa a verdade.
Sem a consciência que Bobby tinha da importância de sermos verdadeiros em
todas as situações do cotidiano, muitos de nós apresentamos uma realidade
distorcida aos nossos filhos. Tantas vezes, para economizar pequena soma em
moedas, desperdiçamos o tesouro do ensinamento nobre e justo. Desconsiderando a
grandeza da integridade e da dignidade humanas, permitimos que esses valores
morais sejam arremessados fora, por muito pouco. Nesses dias de tanta corrupção
e desconsideração para com o ser humano, vale a pena refletir sobre os exemplos
que temos dado aos nossos filhos.
Às vezes, não só mentimos ou falamos meias verdades, como também pedimos a
eles que confirmem diante de terceiros as nossas inverdades. Agindo assim,
estaremos contribuindo para a construção de uma sociedade moralmente enferma
desde hoje. Ademais, o fato de mentirmos nos tira a autoridade moral para exigir
que os filhos nos digam a verdade, e isso nos incomoda. Pensamos que pequenas
mentiras não farão diferença na formação do caráter dos pequenos, mas isso é
mera ilusão, pois cada gesto, cada palavra, cada atitude que tomamos, estão
sendo cuidadosamente observadas e imitadas pelas crianças que nos rodeiam.
Daí a importância da autoridade moral, tão esquecida e ao mesmo tempo tão
necessária na construção de uma sociedade mais justa e digna. E autoridade moral
não quer dizer autoritarismo. Enquanto o autoritarismo dita ordens e exige que
se cumpra, a autoridade moral arrasta pelo próprio exemplo, sem perturbação. A
verdadeira autoridade pertence a quem já conquistou-se a si mesmo, domando as
más inclinações e vivendo segundo as regras de bem proceder. Dessa forma, o
exemplo ainda continua sendo o melhor e mais eficaz método de educação. Sejamos,
assim, cartas vivas de lições nobres para serem lidas e copiadas pelos que
convivem conosco. Diz o poeta americano Ralph Waldo Emerson: 'Quem você é fala
tão alto que não consigo ouvir o que você está dizendo’.
Em tempos de desafios e lutas, quando a ética e a moral são mais importantes
que nunca, assegure-se de ter deixado um bom exemplo para aqueles com quem você
trabalha ou convive.
Por Fátima Farias
O Norte - 8 de junho de 2003
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